quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

VIGILANTE RODOVIÁRIO: DA FICÇÃO PARA A VIDA REAL COMO HERÓI DAS ESTRADAS


Ouça em https://open.spotify.com/episode/6e4yNoMcfnWAShJpp3Us0v?si=852lX2PUTMuLgCb1S25JPg  
 o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir:


Faleceu recentemente, aos 91 anos, Carlos Miranda, o ator que personificou o Inspetor Carlos, na série Vigilante Rodoviário.

A série de televisão é um marco na história da TV no país. Criada por Ary Fernandes e exibida pela primeira vez em 3 de janeiro de 1962, foi a primeira série de ação da TV brasileira. Foram 38 episódios, todos em preto e branco, transmitidos até 1963.

A trama gira em torno de Carlos, o Vigilante Rodoviário, interpretado por Carlos Miranda. Carlos é um policial rodoviário que, junto com seu fiel companheiro Lobo, um pastor-alemão, patrulha as estradas do Brasil, combatendo o crime e ajudando os necessitados.

Equipado com um Simca Chambord, um dos carros mais famosos da época, o personagem se tornou um símbolo de justiça e segurança nas estradas.

A série foi um grande sucesso de audiência e conquistou o coração do público brasileiro, especialmente das crianças e adolescentes da época. Além das emocionantes aventuras de Carlos e Lobo, a série destacava valores como honestidade, coragem e senso de dever.

Cada episódio abordava um problema diferente, desde contrabando e roubo até desaparecimento de pessoas e acidentes de trânsito.

A série deixou uma herança duradoura na cultura brasileira: inspirou quadrinhos, brinquedos e filmes, e continua sendo lembrada com carinho por aqueles que viveram a época.

Mesmo décadas após o fim de sua exibição original, "Vigilante Rodoviário" mantém um lugar especial na memória coletiva do Brasil, representando não apenas uma era dourada da televisão, mas também os valores de justiça e serviço público.

A série é um testemunho do impacto duradouro que a TV pode ter na formação de uma cultura e na promoção de ideais positivos.

Carlos Miranda protagonizou também um caso muito interessante: seu personagem saiu da ficção e foi para a vida real: após o final da série, ele ingressou na Polícia Rodoviária, onde fez carreira, tendo atingido o posto de tenente-coronel.


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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

BAR DO ZÉ, O ÚLTIMO BOTECO RAIZ DA RUA MARIA ANTONIA



Ouça em https://open.spotify.com/episode/7bY6loaCUOC43tmESDHALA?si=vV9jHTziSAWbXHUciBNGzw o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir:


Com raízes em uma pequena mercearia situada na esquina da Maria Antonia com a Dr. Vila Nova, em São Paulo, o Bar do Zé marcou época.

A rua ficou famosa nacionalmente a partir de 1968, quando aconteceu ali a triste “Guerra da Maria Antonia”, onde alunos do Mackenzie e da Faculdade de Filosofia da USP, instituições que ficavam uma defronte a outra, se enfrentaram a tiros. Ouve uma morte e diversos feridos, com o prédio da USP tendo sido incendiado e a faculdade sendo obrigada a mudar-se.

O Bar do Zé, cujo nome oficial era “Bar e Lanches Faculdade” ficou famoso, entre outras coisas, pelos seus sanduíches. O de pernil era uma delícia e os boêmios tradicionais do bar nunca eram incomodados pelo Zé ou pelos garçons – lembro-me bem do Arlindo, do Odair e do Alex. 

Tinha uma frequência interessante: de manhã, bem cedo, estudantes do Mackenzie (inclusive do ensino médio) tomavam café da manhã. Logo depois deles, chegavam os funcionários do Sesc, Senac e outras instituições da região, também para o café da manhã.

Na hora do almoço, gente de toda espécie, almoçando ou comendo sanduíches. Ao final da tarde, estudantes já tomavam uma cervejinha. No início da noite, os mesmos trabalhadores citados acima iam bebericar também. 

Logo após chegavam estudantes dos cursos noturnos, que matavam as aulas seguidos dos frequentadores tradicionais. Após o final das aulas, muitos professores do Mackenzie – meu marido inclusive, que era chamado pelos garçons de “professor”, e eu de “professora”.


Era um lugar onde se ficava à vontade – eu gosto de tirar os sapatos, e ali inclusive podia colocar meus pés em uma cadeira, ao final da noite. Quando preciso, era possível pendurar a conta ou descontar um cheque.

O Zé era também a sede do Unidos da Maria Antonia, um bloco que se reunia na tarde do sábado de carnaval. O Unidos talvez fosse o único bloco que desfilava parado: a rua era fechada, um trio elétrico estacionava em frente ao Zé e a cerveja rolava até tarde da noite.

O Bloco foi fundado em 1989 pelo Midnight (foto ao lado), o João Carlos Nascimento, um dos mais famosos frequentadores do Zé e que morreu em 2017 - vale a pena registrar que o Midnight quando me cumprimentava, beijava minha mão; bem à moda antiga.

O cronista Mario Prata, que frequentava o Zé, escreveu uma bela crônica sobre o bar que foi frequentado também por figuras como Delfim Neto, Fernando Henrique Cardoso, José Dirceu, Chico Buarque, Carlos Lyra, Toquinho e outros.

O dono do bar era o Zé Rodrigues, um português que acabou arrendando a casa para outro patrício, natural da ilha da Madeira – ele não foi feliz na administração e a chegada da pandemia acabou liquidando o Bar.

O prédio foi reformado, tendo se instalado ali um outro estabelecimento, muito chique, sem o espírito boêmio do Zé, mas que parece não ter caído no gosto do pessoal da região, vive sempre praticamente vazio.

Hoje, meu bar na Maria Antonia é o MacFil, onde a alegria dos estudantes, a gentileza dos garçons e a cerveja, estupidamente gelada, ao menos lembram o Bar do Zé, o último boteco raiz da rua Maria Antonia.


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domingo, 2 de fevereiro de 2025

RASTRO DE UM ÍCONE: APARÍCIO BASÍLIO DA SILVA

 



Ouça em https://open.spotify.com/episode/1g5NXJbjKTM1gOXE4q9iE8?si=ttVC4fCoTH61AYPWIML-NQ o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir:


Aparício Basílio da Silva nascido em 1936 estava sempre presente nas colunas sociais: o colunista Nirlando Beltrão elegeu-o o homem mais elegante de São Paulo.

Em 1956, Aparício abriu sua butique, a Rastro, na então glamorosa rua Augusta. Ali ele vendia produtos de moda e decoração, muitos desenhados por ele próprio.

Aparicio desenvolveu a ideia de lançar uma fragrância de qualidade igual à dos perfumes importados, mas com algum toque de brasilidade – em 1965 lançou a água-de-colônia Rastro.

O perfume era dado como brinde aos clientes da loja, mas ficou tão famoso que passou a ser comercializado, sendo considerado o primeiro perfume de luxo do Brasil – sua embalagem também foi projetada por Aparício.

A colônia, na cor verde, tornou-se um objeto do desejo de todos, brilhando até os anos 1980, quando começou a perder mercado para os importados e para concorrentes nacionais como Avon e Natura.

Aparício era um homem culto. Estudou arte, foi artista plástico e colecionador de obras de arte. Também foi presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo durante nove anos e escreveu alguns livros.

Aparício teve um final trágico: em 1992 sofreu um sequestro e acabou morto por criminosos que buscavam dinheiro.

A marca criada por Aparício pertence atualmente ao grupo Hypermarcas, que produz alguns itens que levam o nome Rastro, mas não a tradicional colônia verde.


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