segunda-feira, 19 de junho de 2023

MAZZAROPI - UM ARTISTA INESQUECÍVEL



Ouça em https://soundcloud.com/elisabete-bretenitz/mazzaropi o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir.

A programação completa da rádio está em https://www.educawebradio.com.br/

Mazzaropi, nascido em São Paulo em 9 de abril de 1912 foi um ator, humorista, cantor e cineasta brasileiro.

Com apenas dois anos de idade sua família mudou-se para Taubaté. O pequeno Amácio passava longas temporadas no município vizinho de Tremembé, na casa do avô materno, o português João José Ferreira, exímio tocador de viola e dançarino de cana-verde, uma dança de origem portuguesa.

Seu avô também era animador das festas do bairro onde morava, às quais levava seus netos que, desde cedo, entraram em contato com a cultura caipira, que tanto inspirou Mazzaropi.

Em 1919, sua família voltou à capital e Mazzaropi ingressou no curso primário do Colégio Amadeu Amaral, no bairro do Belém. Bom aluno, era reconhecido por sua facilidade em decorar poesias e declamá-las, tornando-se o centro das atenções nas festas escolares.

Em 1922, a família mudou-se novamente para Taubaté, e Mazzaropi continuou a interpretar personagens nas atividades de teatro de sua escola e passou a frequentar o mundo circense.

Já com quatorze anos, em 1926, regressou à capital paulista onde se juntou ao "Circo La Paz".

À Revolução Constitucionalista de 1932, seguiu-se uma grande agitação cultural e Mazzaropi estreou em sua primeira peça de teatro, chamada “A herança do Padre João”.

Em 1935, conseguiu convencer seus pais a atuarem como atores, formando a “Troupe Mazzaropi” que até 1945, a percorreu o interior de São Paulo, mas não havia dinheiro para melhorar a estrutura da companhia.

Com a morte da avó materna, Mazzaropi recebeu uma herança suficiente para comprar um telhado de zinco para seu circo, podendo assim estrear na capital, com atuações elogiadas por jornais paulistanos. Depois, partiu com a companhia em turnê pelo Vale do Paraíba.

Após a morte de seu pai, em 1944 a situação financeira da companhia ficou difícil, mas mesmo assim Mazzaroppi estreou no Teatro Oberdan, como ator e diretor da peça "Filho de sapateiro, sapateiro deve ser", acolhida com entusiasmo pelo público.

O Teatro Oberdan ficava no bairro do Bras e mais tarde foi transformado em cinema.

Aqui vale lembrar uma tragédia: na matinê do dia 10 de abril de 1938, a plateia, formada principalmente por crianças, foi tomada de pânico, em função de um falso alarme de incêndio – no desespero para abandonar o prédio, cerca de 30 crianças morreram pisoteadas.

A carreira de Mazzaropi seguiu em ascenção, com ele passando a atuar em programas de rádio e televisão da extinta Rede Tupi. No cinema, em três décadas, Mazzaropi participou de trinta e duas produções cinematográficas, as primeiras como ator, e mais tarde também como produtor. Dentre seus filmes mais famosos lembramos Tristeza do Jeca, Casinha Pequenina, O corintiano entre outros.

Faleceu em São Paulo, em 13 de junho de 1981, antes de completar seu trigésimo terceiro filme.

Sem dúvida um grande artista.

terça-feira, 13 de junho de 2023

CACILDA BECKER - A ESTRELA MÁXIMA DO TEATRO NACIONAL




Ouça em https://soundcloud.com/elisabete-bretenitz/cacilda-becker  o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir. 

A programação completa da rádio está em https://www.educawebradio.com.br/

Foi uma morte teatral. Carregada do palco depois de ter um aneurisma em cena, Cacilda Becker ainda vestia os trajes do personagem Estragon, que interpretava na peça Esperando Godot, quando foi levada ao Hospital São Luiz, em São Paulo.

A montagem de Esperando Godot, que ela apresentava naquele ano de 1969, era o ponto máximo de uma carreira brilhante; seu casamento com Walmor Chagas havia chegado ao fim, mas ela, ainda apaixonadíssima, contracenava com ele na peça de Samuel Beckett.

Tinha apenas 48 anos. Nesse curto tempo, atuou em cerca de 70 peças. O suficiente para que se tornasse a estrela máxima do teatro nacional.

“A nossa maior artista”, sentenciou Alfredo Mesquita, fundador da Escola de Arte Dramática. Esteve em apenas dois filmes: Luz dos Meus Olhos (1947) e Floradas na Serra (1954).

No livro em que contam a história do teatro de São Paulo, Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas tentam dar conta da sua grandeza, dizendo: “Cacilda impressionava pela sinceridade, pela profunda emoção que expressava com os meios mais simples e diretos. Impossível ver no palco maior magnetismo e vibração do que em Cacilda”.

Sua vida teve batalhas, drama e lances de heroísmo. Quando seus pais se separaram, ela e a irmã Cleyde Iaconis, também atriz, mudaram-se para a casa dos avós.

Ainda criança, enfrentou a oposição do avô para fazer sua estreia no teatro Polytheama de Pirassununga. Ela mesma havia concebido coreografia e fantasia para a história de uma lagarta que se transforma em borboleta.

Ainda no colégio, ouviu pela primeira vez falar em Isadora Duncan – a bailarina norte-americana considerada a precursora da dança moderna. Já morava em Santos nessa época, e fazia das praias o cenário para seus primeiros passos de balé.

Sem ter condições de seguir carreira como bailarina, descobriu o teatro – que lhe oferecia um meio de subsistência. O rádio também foi um alento nesse período.

Em 1948, a abertura de um teatro no bairro do Bexiga, em São Paulo, mudaria de vez seu destino. Sua entrada no Teatro Brasileiro de Comédia inaugurava um tempo de alguma estabilidade, com salário fixo, e muitas descobertas.

O trabalho era intenso e ali ela aprendeu muito, permitindo-lhe criar sua própria companhia: o Teatro Cacilda Becker, que reunia Ziembinski, Cleyde Yáconis, Walmor Chagas e outros.

Ali, sentia-se livre para fazer suas escolhas em montagens de grandes obras, como O Auto da Compadecida, Nick Bar, Antígona", A Dama das Camélias e Gata em Teto de Zinco Quente.

Em Esperando Godot, dirigida por Flávio Rangel, estava no auge, e sabe-se lá o que teria alcançado se a vida lhe tivesse dado mais tempo.

sábado, 3 de junho de 2023

LYGIA FAGUNDES DA SILVA TELLES - A DAMA DA LITERATURA BRASILEIRA



Ouça em https://soundcloud.com/elisabete-bretenitz/lygia-telles o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir. 

A programação completa da rádio está em https://www.educawebradio.com.br/

Lygia de Azevedo Fagundes nasceu em São Paulo, em 19/04/1918 na rua Barão de Tatuí, no bairro de Santa Cecília.

Filha de Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, conhecida como Zazita, uma pianista, e Durval de Azevedo Fagundes, procurador e promotor público, que também trabalhou como advogado distrital, comissário de polícia e juiz.

Em 1941, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sendo uma das seis mulheres em uma classe com mais de cem homens e em 1947, casou-se com Goffredo da Silva Telles Jr. seu professor de direito internacional privado. 

Na ocasião, Goffredo era deputado federal,  e em virtude desse fato, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal.  Lygia exerceu a advocacia na Secretaria de Agricultura durante algum tempo, mas a abandonou pelas letras, tornando-se colaboradora do jornal carioca A Manhã, para o qual escreveu uma coluna de crônicas semanal.

Com seu retorno à capital paulista, em 1952, começou a escrever seu primeiro romance, Ciranda de Pedra (1954), que a tornou conhecida nacionalmente.

Em 1954, nasceu o único filho do casal, Goffredo da Silva Telles Neto.

Integrou a Academia Paulista de Letras e também a Academia Brasileira de Letras desde a década de 80. Foi considerada por acadêmicos, críticos e leitores uma das mais importantes e notáveis escritoras brasileiras do século XX e da história da literatura brasileira. 

Além de advogada, romancista e contista, Lygia teve grande importância no pós-modernismo; suas obras retratam temas clássicos e universais como a morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia.

Por 4 vezes foi agraciada pelo Prêmio Jabuti por suas obras: “O jardim selvagem” (1966), “As meninas” (1973), “A noite escura e mais eu” (1996) e a coletânea “Invenção e Memória” (2001). 

Em 2005, pelo conjunto da obra recebeu o Prêmio Camões, que homenageia autores de língua portuguesa. Lygia tem obras traduzidas para vários idiomas e adaptadas para cinema, teatro e TV.

Lygia Fagundes da Silva Telles, conhecida como "a dama da literatura brasileira", nos deixou em 3 de abril de 2022.