terça-feira, 13 de junho de 2023

CACILDA BECKER - A ESTRELA MÁXIMA DO TEATRO NACIONAL




Ouça em https://soundcloud.com/elisabete-bretenitz/cacilda-becker  o áudio produzido para a Educa Web Radio, cujo texto está a seguir. 

A programação completa da rádio está em https://www.educawebradio.com.br/

Foi uma morte teatral. Carregada do palco depois de ter um aneurisma em cena, Cacilda Becker ainda vestia os trajes do personagem Estragon, que interpretava na peça Esperando Godot, quando foi levada ao Hospital São Luiz, em São Paulo.

A montagem de Esperando Godot, que ela apresentava naquele ano de 1969, era o ponto máximo de uma carreira brilhante; seu casamento com Walmor Chagas havia chegado ao fim, mas ela, ainda apaixonadíssima, contracenava com ele na peça de Samuel Beckett.

Tinha apenas 48 anos. Nesse curto tempo, atuou em cerca de 70 peças. O suficiente para que se tornasse a estrela máxima do teatro nacional.

“A nossa maior artista”, sentenciou Alfredo Mesquita, fundador da Escola de Arte Dramática. Esteve em apenas dois filmes: Luz dos Meus Olhos (1947) e Floradas na Serra (1954).

No livro em que contam a história do teatro de São Paulo, Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas tentam dar conta da sua grandeza, dizendo: “Cacilda impressionava pela sinceridade, pela profunda emoção que expressava com os meios mais simples e diretos. Impossível ver no palco maior magnetismo e vibração do que em Cacilda”.

Sua vida teve batalhas, drama e lances de heroísmo. Quando seus pais se separaram, ela e a irmã Cleyde Iaconis, também atriz, mudaram-se para a casa dos avós.

Ainda criança, enfrentou a oposição do avô para fazer sua estreia no teatro Polytheama de Pirassununga. Ela mesma havia concebido coreografia e fantasia para a história de uma lagarta que se transforma em borboleta.

Ainda no colégio, ouviu pela primeira vez falar em Isadora Duncan – a bailarina norte-americana considerada a precursora da dança moderna. Já morava em Santos nessa época, e fazia das praias o cenário para seus primeiros passos de balé.

Sem ter condições de seguir carreira como bailarina, descobriu o teatro – que lhe oferecia um meio de subsistência. O rádio também foi um alento nesse período.

Em 1948, a abertura de um teatro no bairro do Bexiga, em São Paulo, mudaria de vez seu destino. Sua entrada no Teatro Brasileiro de Comédia inaugurava um tempo de alguma estabilidade, com salário fixo, e muitas descobertas.

O trabalho era intenso e ali ela aprendeu muito, permitindo-lhe criar sua própria companhia: o Teatro Cacilda Becker, que reunia Ziembinski, Cleyde Yáconis, Walmor Chagas e outros.

Ali, sentia-se livre para fazer suas escolhas em montagens de grandes obras, como O Auto da Compadecida, Nick Bar, Antígona", A Dama das Camélias e Gata em Teto de Zinco Quente.

Em Esperando Godot, dirigida por Flávio Rangel, estava no auge, e sabe-se lá o que teria alcançado se a vida lhe tivesse dado mais tempo.